Com as condenações anunciadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do mensalão, réus do chamado "núcleo publicitário", ligados ao empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, já se preparam para uma possível prisão.
LEANDRO COLON – da Folha de São
Paulo.
Sessão de julgamento do Mensalão, marco histórico contra a corrupção no país. |
As 27 sessões de julgamento
feitas até agora resultaram na condenação de dez réus. A definição da pena de cada
um só vai ocorrer no final. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel,
pede a prisão imediata dos condenados, mas a questão será debatida pelos
ministros. No dia 14, um dia depois de ser condenada por lavagem de dinheiro,
Simone Vasconcelos, ex-gerente financeira da SMPB (empresa de Valério), se
reuniu com o advogado em Belo Horizonte. Nervosa e chorando muito, quis saber
detalhes de uma eventual prisão, que poderá ser cumprida na Penitenciária
Feminina Estevão Pinto, em Belo Horizonte. Simone quis saber se poderá ver os
filhos e o neto, por exemplo. Se poderá trabalhar fora da cadeia, num regime
semiaberto, ou dentro dela. A tensão por parte de Simone aumentou depois do
vazamento da pena sugerida pelo relator Joaquim Barbosa só para este crime:
sete anos e sete meses de prisão, mais multa de pelo menos R$ 225 mil, dinheiro
que ela alega não ter. Simone ainda será julgada por corrupção ativa e formação
de quadrilha. Numa conversa com a Folha, afirmou que muito do que disse em sua
defesa foi "deturpado" ou ignorado no julgamento do STF. "É
triste demais o que estou passando, um transtorno enorme. Estamos no meio de um
tiroteio, se dou um espirro pode ser interpretado do jeito que está lá sendo
feito", disse. Ela alega, na defesa, ter cumprido ordens de Valério, sem
conhecer o esquema.
Rogério Tolentino, 62, ex-sócio e
advogado de Valério, foi condenado por lavagem dinheiro e ainda será julgado
por formação de quadrilha e corrupção ativa. A pena sugerida por Barbosa, no
primeiro crime, é de dez anos, mais multa de R$ 625 mil. "Vou chorar?
Bater a cabeça? Vou reclamar com bispo? Você tem que centrar [na cadeia], o
cara centra e pensa: isso vai acabar uma hora. Estudei em colégio
interno". Tolentino é acusado de usar sua empresa para obter empréstimo de
R$ 10 milhões para o esquema. Diz que só atendeu a pedido de Valério. "Estamos
no meio de uma guerra. A nuvem negra está aí. Enquanto tiver recurso, vou
recorrer", disse. "Se não tivesse mensalão, que crime cometi?
'Porrica' nenhuma."
Toda semana, o publicitário
Cristiano Paz, 60, e sua mulher se reúnem com um grupo de amigos para estudos
bíblicos em BH. Ele deixou de assistir ao julgamento depois que foi condenado
por corrupção ativa, peculato e lavagem. A pena sugerida pelo relator, só para
o último crime, é de dez anos. Paz era um dos três sócios da SMPB e assinou
alguns dos cheques dos empréstimos do mensalão. Alega que não sabia das
tratativas políticas de Valério com o PT. Ele analisa com a família como
ficarão os negócios caso vá para a cadeia. "Tento mantê-lo otimista.
Confio plenamente que sua conduta será examinada com critério [na definição da
pena]", diz o advogado, Castellar Guimarães. Paz montou com o filho a
Filadélfia Propaganda, hoje uma das maiores agências de Minas Gerais, que não
tem contrato público.
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